sábado, 31 de janeiro de 2009

LEITURA PARA PRÓXIMA AULA

LEIA COM ATENÇÃO OS TEXTOS A SEGUIR E REFLITA SOBRE AS IDÉIAS NELES CONTIDAS.
1. Notícias - dezembro

Número de partos cai entre adolescentes

O Ministério da Saúde lançou um relatório mostrando que o número de partos feitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em garotas de 10 a 19 anos caiu 26,7% entre 1997 e 2007. Em 1997, foram feitos 720.338 partos em adolescentes, enquanto em 2007 o total caiu para 527.341. Este ano, até julho, haviam sido feitos 275.892 partos em adolescentes pelo SUS.
O ministério credita a redução de partos em adolescentes a uma série de políticas que aumentaram o acesso a métodos anticoncepcionais e a medidas educativas sobre saúde sexual e reprodutiva destinadas a jovens. A maior queda foi observada na região Sul (35,6%), enquanto a menor foi da região Norte (6,7%). Na região Centro-Oeste a diminuição foi de 34,1%, no Sudeste de 32,4% e no Nordeste, 22,6%.
A incidência de gestação precoce continua sendo maior entre garotas de baixo poder aquisitivo e baixa escolaridade. Entre as garotas negras, o índice é cerca de 30% maior do que entre garotas brancas.
Para ler mais sobre a pesquisa acesse Saude.gov.

2. O exercício da sexualidade na adolescência: a contracepção em questão*

A gravidez na adolescência é um evento complexo, pluricausal, que pode comprometer o projeto de vida e, por vezes, a própria vida1.
Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil entrou no ano 2000 com 36 milhões de indivíduos adolescentes, sendo esta a maior coorte nesta faixa etária, de sua história demográfica2. Dados do Ministério da Saúde revelam que um milhão de adolescentes ficam grávidas por ano, ocorrendo 700.000 partos, aproximadamente, dentro do Sistema Único de Saúde e cerca de 200.000, na rede privada3. Há uma grande preocupação com o aumento de gestações abaixo de 14 anos de idade.
O parto constitui hoje a primeira causa de internação em menores de 20 anos nos serviços públicos e privados; gravidez, parto e puerpério perfazem, em todas as regiões do país, 80,3% do total de internações3.
Vários fatores são apontados para a ocorrência da gestação na adolescência4-6, destacando-se entre eles: o adiantamento da puberdade; o início cada vez mais precoce das relações sexuais; a
desestruturação familiar; a banalização e vulgarização do sexo pelos meios de comunicação; a sociedade pseudopermissiva que estimula a atividade sexual e a erotização do corpo mas proíbe a gravidez na adolescência; as singularidades psíquicas desta faixa etária; a baixa escolaridade; a ausência de projeto de vida; a promiscuidade; a miséria; o desejo de gravidez (variável inconsciente de difícil avaliação).
Até há cerca de duas décadas, somava-se a este cortejo a possível falta de informação. Posteriormente, a literatura mostrou-se plena de estudos que mostravam o contrário5: adolescentes tinham a informação sobre métodos anticoncepcionais, mas não os utilizavam por várias razões4-6. O desafio de associar a esse conhecimento uma mudança efetiva no comportamento sexual dos jovens, visando o sexo seguro, uniu os profissionais da saúde em busca de soluções para o problema.
3. "Meninas" expõe gravidez adolescente [Jairo Bouer]
Folha de São Paulo, Teen, segunda-feira, 08 de maio de 2006, Jairo Bouer

"Meninas", filme da diretora Sandra Werneck (em cartaz), é fundamental para a gente tentar entender um pouco melhor a gravidez na adolescência no Brasil.

O documentário mostra a vida de quatro garotas que engravidaram com idades entre 13 e 15 anos. Você se impressionou com a faixa etária? Pois saiba que os dados das pesquisas mais recentes apontam que, de cada quatro ou cinco adolescentes brasileiras, uma vai engravidar antes do 18.
No filme fica claro que todas elas sabiam dos riscos que corriam ao transar sem proteção. Não dá para dizer que ninguém engravidou por falta de informação. Algumas vezes um pensamento mágico do tipo "não imaginava que isso fosse acontecer com a gente" aparece. Ficam evidentes o susto e o medo de lidar com uma nova fase da vida, mas, ao mesmo tempo, há um certo "deslumbramento" com a idéia de ser mãe.
Esse, aliás, é outro dado que surpreende. Boa parta das gestações nessa faixa de idade, principalmente aquelas que acontecem nas garotas de comunidades mais carentes, é planejada ou desejada. É como se a possibilidade de ser mãe faz a menina enxergar um papel na sociedade e um projeto.
As garotas, muitas vezes vivendo em famílias pouco estruturadas, sem perspectivas de estudo ou trabalho, passam a imaginar que a maternidade vai dar sentido a sua existência. Enganam-se!
Os namorados, na maioria das vezes mais velhos e experientes, não assumem um papel presente na criação e na educação dos filhos. E perpetua-se o ciclo em que as garotas, amparadas pelas mulheres da família, têm que se afastar ainda mais dos amigos, da escola e do emprego.
Se, de um lado, a maternidade precoce força um amadurecimento, do outro lado, o desejo de brincar, de sair, de dançar e de se divertir também está presente. E, nesse meio de caminho, entre a obrigação de criar um filho e a vontade de aproveitar a juventude, as meninas ficam ainda mais divididas. Fica evidente que a gravidez na adolescência não é um fenômeno isolado. É umas das pontas de uma realidade social que está aqui, bem na cara da gente.
@ - jbouer@uol.com.br
4. Gravidez na adolescência

A gravidez na adolescência é considerada um problema de saúde em todo o mundo, inclusive no Brasil, onde se observa, nas últimas três décadas, aumento significativo dos índices de gestação em jovens de todas as classes sociais.
A adolescência é a fase de transição entre a infância e a idade adulta, caracterizada pelas transformações físicas e psicossociais. Nessa fase, os jovens assumem mudanças na imagem corporal, de valores e de estilo de vida, afastando-se dos padrões estabelecidos por seus pais e criando sua própria identidade.
O desenvolvimento da sexualidade faz parte do crescimento do indivíduo em direção a sua identidade adulta. Inicia-se com a exploração do próprio corpo (prática masturbatória) evoluindo para o interesse pelo parceiro.
Modificações do padrão comportamental dos adolescentes no exercício de sua sexualidade vêm exigindo maior atenção dos familiares, profissionais de saúde e educação devido a suas repercussões, entre elas a gravidez precoce.
Fatores de risco
As causas de uma gravidez precoce estão relacionadas com uma série de fatores e comportamentos de risco, entre eles:

1. Contexto sócio-cultural mais liberal e permissivo que outrora. Pesquisa realizada pela UNESCO junto com o Ministério da Saúde, no ano de 2001, mostra, por exemplo, que na década de 1990, um entre cada quatro adolescentes tinha permissão para manter relações sexuais dentro da própria casa. Em 2001, esse número quase dobrou.

2. Início da puberdade e menarca (primeira menstruação) precoces.

3. Iniciação sexual cada vez mais precoce. Em 2004 o Ministério da Saúde divulgou dados mostrando que a média de idade na primeira relação sexual é de 15.1 anos para as meninas e de 14.4 anos para os meninos.

4. Baixa escolaridade e abandono escolar. Em São Paulo, no ano de 2000, foram registrados 314.000 partos de adolescentes com menos de 4 anos de estudo e 86.000 daquelas com 11 a 14 anos de estudo.

5. Baixa renda. Em 2000 foram registrados em São Paulo 349.000 partos de adolescentes provenientes de famílias com até 2 salários mínimos contra 20.000 daquelas com mais de 15 salários mínimos.

6. Desconhecimento sobre a sexualidade e a saúde reprodutiva.

7. Uso incorreto de anticoncepcionais. Ocorre por diversos fatores, dentre eles a falta de entendimento do seu uso efetivo ou esquecimento.

8. Características próprias da adolescência que, por si mesmas, colaboram na composição de tais números, como o pensamento mágico, ou seja, a sensação de invulnerabilidade e onipotência, a idéia de que isso nunca vai acontecer comigo. Além disso, o adolescente tem uma vivência singular do tempo, caracterizada pela impulsividade e não preocupação com as conseqüências futuras dos atos realizados aqui e agora.

9. Dificuldades de relacionamento familiar podem levar à gestação precoce, seja por agressão aos pais, baixa auto-estima ou falta de perspectivas.

10. Usuários de drogas têm altos índices de gravidez na adolescência.

Como Evitar

1. Estimular a auto-estima dos jovens, na tentativa de afastá-los de comportamentos de risco.

2. Estimular a formação de projetos para o futuro.

3. Manter uma boa estrutura familiar, fundamentada no diálogo e afeto.

4. Incentivar a educação e freqüência escolar.

5. Melhorar a qualidade do tempo livre, com estímulo aos esportes e atividades sociais.

6. Dar orientação sexual e reprodutiva.

7. Orientar quanto ao uso correto de anticoncepcionais.

O Pai Adolescente
O papel do parceiro é fundamental para a boa evolução da gestação, dando apoio à sua parceira e diminuindo os riscos de complicações psicológicas. Além disso, não podemos esquecer que muitos deles são também adolescentes e mostram-se inseguros perante à nova situação. Diante disso, deve-se estimular sua participação no pré-natal.
O que fazer
Diagnosticada a gravidez, deve ser iniciado o seu acompanhamento. O pré-natal ideal para a adolescente é aquele que permite um acompanhamento integral da gestante, onde além da consulta ginecológica ela possa tirar todas as suas dúvidas sobre o momento que está passando. É importante que receba orientações sobre os cuidados consigo mesma e seu bebê e tenha espaço para planejar seu futuro como mãe e adolescente, de forma que possa exercer os dois papéis simultaneamente.

Relatoras:
Dra. Andrea HercowitzMembro do Departamento de Adolescência da SPSP; Professora Colaboradora do Instituto de Hebiatria(*) da Faculdade de Medicina do ABC; Médica Pediatra da Clínica de Especialidades do Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP. Dra.
Maria Sylvia de Souza VitalleMembro do Departamento de Adolescência da SPSP; Chefe do Centro de Atendimento e Apoio ao Adolescente do Departamento de Pediatria da UNIFESP/EPM, São Paulo, SP.

Texto atualizado em 9/08/2007.
(*)Hebiatria
Drauzio – Qual é a origem da palavra hebiatria?
Mauricio de S. Lima – Hebiatria é uma palavra de origem grega que significa medicina da juventude. Traz consigo uma referência a Hebe, a deusa grega da juventude, filha de Zeus e de Hera. No Brasil, embora a especialidade exista há mais de 30 anos, poucos a conhecem.Para receber o título de hebiatra, o médico precisa fazer dois anos de especialização em pediatria e mais dois de especialização em medicina do adolescente.
Drauzio – O que diferencia a medicina aplicada à adolescência, da pediatria e da medicina com enfoque na vida adulta?
Maurício de S. Lima – A adolescência é uma fase peculiar da vida. Nenhuma outra é tão marcada por mudanças físicas e questões relacionadas ao desenvolvimento psicossocial como essa que vai do fim da infância até a entrada no mundo adulto, ou seja, dos 10 aos 20 anos de idade, segundo a Organização Mundial da Saúde.O médico hebiatra é um clínico-geral especializado em adolescentes. Cuida do desenvolvimento físico, tratando e prevenindo doenças do jovem nessa faixa de idade. Verifica se está crescendo adequadamente, ou não, e prescreve as vacinas que precisam ser ministradas na adolescência. Todo mundo se lembra das vacinas que devem ser tomadas na infância. Já as da adolescência, muitas vezes, ficam relegadas a um segundo plano.É função também do hebiatra estar atento ao desenvolvimento psicossocial no que diz respeito ao convívio social, como a interação com o grupo de amigos, a experimentação de drogas, o início da sexualidade.
Dr. Maurício de Souza Lima é médico da Unidade de Adolescentes e coordenador do Ambulatório dos Filhos de Mães-Adolescentes do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade São Paulo, membro da Associação Paulista de Adolescência e do Departamento de Adolescência da Sociedade de Pediatria de São Paulo. É também autor do livro “Filhos Crescidos, Pais Enlouquecidos” (Editora Landscape, SP, 2006, 157 páginas).

AULAS 1 E 2

Durante a semana, procurem:

1. fazer as atividades das páginas 7 e 8 (se julgarem necessário, enviem-me os textos produzidos para que eu avalie se eles são adequados ao tipo solicitado, ou seja, se o texto do exercício 1 é descritivo; se o do exercício 2 é narrativo e se o do exercício 3 é dissertativo);

2. estudar o que foi postado neste blog sobre gêneros e tipos textuais;

3. ler textos como os acima sobre o tema Gravidez na adolescência. Em breve, vocês irão refazer, para nota, a redação sobre esse tema;.

4. fazer o que está indicado na página 8, no tópico "em casa".

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

CENA DO FILME "MENINAS', DE SANDRA WERNECK




Redação nota 10 FUVEST - exemplo de texto com alta informatividade


TEXTO PUBLICADO NA COLUNA "LER PARA VIVER", EM 29/01/2009, NO DIÁRIO DE MARÍLIA



OSÓRIO ALVES DE CASTRO (1901 - 1978) – outro personagem (esquecido) da memória mariliense

Nas semanas anteriores, nesta mesma coluna, a Profª Márcia Garcia teceu algumas considerações sobre o escritor José Geraldo Vieira. Para esta semana, atendendo a uma solicitação dela, escrevo sobre outro romancista esquecido pela crítica e pelo público: o escritor-alfaiate Osório Alves de Castro.
Quem não se lembra, ou quem não ouviu falar das reuniões vespertinas que aconteciam na alfaiataria Rex, próxima ao Hotel Líder? Consoante a obra-prima de Osório, muitos marilienses reuniam-se lá para “ouvir as prosas dos trabalhadores e que ninguém duvidasse: a reunião ali fazia merecimento.”(CASTRO, Osório Alves de. Porto Calendário, São Paulo: Francisco Alves, 1961. p. 16). Segundo José Scarabôtolo, “a reunião da Alfaiataria Rex era bastante concorrida”, lá desfilavam, entre muitos, o Dr Coriolano de Carvalho, Laércio Barbalho e João Mesquita Valença que discutiam literatura com o velho Osório Alves de Castro. No Jornal do Comércio [1950], esse conhecido de Osório declara: “lembro-me de que, nas minhas férias, permanecia horas e horas conversando com o bom e místico baiano, alfaiate por obrigação e profissão, mas humanista e literata por vocação.”
Nesse período, o escritor José Geraldo Vieira, que também morava na cidade, havia publicado A Quadragésima Porta (1944) e obtido um grande sucesso pela crítica. Para J. Herculano Pires, esse lançamento serviu principalmente para, além de revelar o talento de José Geraldo Vieira, apresentar “um talento anônimo” aos marilienses, pois Osório havia escrito uma crítica (“com brilho e mestria”), apontando as falhas do livro de J. Geraldo Vieira. Esse episódio ficou célebre em Marília: o grande escritor Geraldo Vieira “se rendeu à inteligência do crítico e obscuro alfaiate”. Como Geraldo Vieira não o conhecia, senão de vista, foi conhecê-lo de perto, passando a freqüentar a Alfaiataria Rex e a discutir, com Osório e outros da roda, assuntos de comum interesse sobre literatura e política.
Baiano de Santa Maria da Vitória, Osório Alves de Castro nasceu em 1901 e faleceu em São Paulo, em 1978, sem ver impresso os livros Maria fecha porta prau boi não te pegar (1978) e Bahiano Tietê (1990). Porto Calendário, o primeiro romance do autor, estava pronto desde 1942, mas só veio a público em 1961, na cidade de Marília. Em 1976, ocorreu a sua segunda edição, em São Paulo.
Numerosas críticas apontaram os defeitos e as qualidades desse escritor. Segundo Lourenço Diaféria, o caso Osório assim se explica: “ele foi, simplesmente, um escritor honesto e digno, que não freqüentou salões e nem coquetéis, cantinas ou exposições para autopromover-se. Desatualizado dos truques e badulaques da mídia (...) não teve sequer tempo para outra coisa a não ser tentar recuperar o tempo que a profissão de alfaiate lhe roubou com a tesoura a cortar ternos para as pessoas elegantes de Marília.”
O escritor Guimarães Rosa, amigo de Osório, leu Porto Calendário antes da publicação e previu que o livro do “mano velho sãofranciscaníssimo” tinha “ousadia intelectual” e haveria de ser “irrupção e bênção, tumulto fecundo, rajada de chuva”. Boa parte da crítica e do público viu em Osório, na época, um talento comparável ao do próprio Guimarães, tanto que lhe concedeu o prêmio Jabuti em 1961.
Assim, a despeito de sua peculiaridade regional, como a de Guimarães Rosa, Osório Alves de Castro também pode ser considerado um nome respeitável no cenário literário brasileiro. (Profª Eliana Nogueira de Lima Pastana - Mestre em Letras pela UNESP. - elianap@flash.tv.br)

Profª Márcia Garcia
Especialista em Literatura e Ensino de Literatura e Mestre em Letras pela Unesp. Professora de Redação no Centro Educacional Profª Márcia Garcia.
e-mail: marciaagarcia@yahoo.com.br
blog: escreveraquiedez@blogspot.com

PARA LEITURA

TEXTO PUBLICADO NA COLUNA "LER PARA VIVER", EM 22/01/2009, NO DIÁRIO DE MARÍLIA


Um olhar cosmopolita voltado para Marília, ou, ficticiamente, para Hacrêra

José Geraldo Vieira, médico radiologista (abandonou a medicina na década de 40 para se dedicar exclusivamente à literatura), trabalhou simultaneamente por dezoito anos na Beneficência Portuguesa e na Associação dos Empregados do Comércio do Rio de Janeiro e por quatro anos na Casa de Saúde São Luís, em Marília, para onde se mudou em 1940 por motivos explícitos no romance A ladeira da memória (1950), o qual, embora não seja um romance autobiográfico, contém muito da vida de Geraldo Vieira, considerado pela crítica um autor cosmopolita.

Nas belas páginas desse romance, nossa cidade, denominada ficticiamente de Hacrêra, figura como um dos cenários como se observa nos fragmentos a seguir.


“Assim me hospedei no Hotel São Bento donde, duas horas depois, um pouco recolhido para dentro da janela do quarto, vi uma multidão vagarosa sair do cinema quase fronteiriço.” (VIEIRA, José Geraldo. A ladeira da memória. São Paulo, Saraiva, 1950. p. 184)

“À hora do almoço, na cidade, lhe surpreerdi a feição progressista, os cafés sussurantes, as esquinas atopetadas, os bancos em efervescência. Um passeio carro, pelo centro e arredores, me deu uma noção esquemática do movimento em época de safra. Os caminhões estavam superlotados; as plataformas das usinas, das máquinas de algodão e dos armazéns gerais se achavam congestionadas de mercadoria, e as balanças imperialistas pesavam o suor da gleba.” (idem. 186)

“Mas o povo, Hacrêra, essa Alta Paulista onde estou confinado, passa a me querer bem, a se interessar por mim, a confiar no meu trabalho e na minha presença, a tirar-me da solidão clandestina, a incorporar-me ao seu conjunto. Verdade é que me custou vir a ser parte, fibra ou nervo daquele conglomerado orgânico de minúsculos, tendões, bielas, eixos, diferenciais,
transmissões e alavancas que a faziam, embora sendo a cidade mais no­va do Estado, campeã nos índices de arrecadação, desen­volvimento e produção. (...)” (idem. p.191)

“Hacrêra... Nome suave, mas que se tornou rombo como fama de matriarcado militarista. A sua avenida principal, já quase toda calçada, desde o edifício do Ginásio até diante do Rádio-Clube e do cinema, formava fachada de corpo com hipertiroidismo. No bairro São Miguel e na ourela da estrada de ferro — contrafação imediatista de São Caetano e da Mooca — se erguiam entrepostostos, cooperativas, serrarias, galpões, fábricas, com toneladas de produtos e de matérias primas. Nesse reduto de cimento armado e de metal, com plataformas, chaminés, turbinas, caldeiras e transformadores, se processava, como num grande fígado, a digestão da Alta Paulista.
Já na Rua São Luiz e transversais, lojas atacadistas davam à cidade aspectos de dinamismo concêntrico sempre servido por filas e filas de caminhões abarrotados.
Pouco a pouco os bairros residenciais, lojas atacadistas substituíam orlas de matas e primitivas fazendas, modificando o an­terior frontespício de casas de madeira.” (idem. p. 194-95)

“Hacrêra! Estrutura apressada de sociedade urbana e fabril dentro de áreas rurais; encaixe de primário civilizado em secundário virgem, dando imantação.” (idem. p. 197)


Profª Márcia Garcia
Especialista em Literatura e Ensino de Literatura e Mestre em Letras pela Unesp. Professora de Redação no Centro Educacional Profª Márcia Garcia.
e-mail: marciaagarcia@yahoo.com.br
blog: escreveraquiedez@blogspot.com

PARA LEITURA

TEXO PUBLICADO NA COLUNA "LER PARA VIVER",EM 15/01/2009, NO DIÁRIO DE MARÍLIA


José Geraldo Vieira (1897 – 1977) – personagem (esquecido) da memória mariliense


Sabemos que o Brasil, um país rico em produção literária, possui uma memória curta (e Marília, infelizmente, não foge à regra), principalmente em se tratando de seus valores culturais. Dentro do panorama literário nacional, há escritores inteiramente esquecidos pelo público ou pela crítica ou injustamente relegados a breves referências em uma ou outra obra de estudo literário.
José Geraldo Vieira, criador de uma obra vasta, coesa e muito apreciada pelo público e pela crítica da época, encontra-se nesse estado de esquecimento. Considerado por críticos respeitáveis, em muitos aspectos, um inovador do romance brasileiro, sua obra está fora do alcance da geração atual.

Conta José Geraldo Vieira, em uma entrevista concedida a Alcides Moura (Jornal de Notícias, 22 de janeiro de 1950), que, quando estudante de medicina, publicara, em O Jornal, um conto que começava assim: "Nasci na Póvoa de Varzim''. Algum tempo depois, Carlos Maúl, confundido a personagem com o autor do conto, divulgou que este era de Póvoa de Varzim. Um desentendimento entre José Geraldo e Eloy Pontes serviu aumentar a confusão a respeito do nascimento do escritor, uma vez que, como vingança, Pontes espalhou que José Geraldo era estrangeiro.
Em decorrência desses fatos, criou-se uma lenda sobre o nascimento de José Geraldo Vieira. Há quem diga que ele nasceu na freguesia de Porto Judeu (caminho da Cidade), conselho e distrito de Angra do Heroísmo, em Portugal, em 16 de abril de 1895 (Amândio César, 195); há também os que afirmam que Geraldo Vieira nasceu no Distrito Federal, em 16 de abril de 1897 ou até na Bahia.
Na verdade, José Geraldo Manuel Germano Correia Vieira Drummond Machado da Costa Fortuna, descendente em linha varonil dos quatro condes da Feiteira e Terra Chã (Açores), nasceu no Rio de Janeiro, a l6 de abril de 1897, quarenta minutos após o nascimento de seu
irmão gêmeo Manuel Geraldo José Germano, que faleceu aos três meses de idade.
Em 1940, momento que interessa, sobretudo, a nós, marilienses, em meio a uma crise de angústia e depressão, José Geraldo Vieira resolveu mudar-se do Rio de Janeiro, onde residia. Sem saber para onde ir, encontrou em um mapa o nome de Marília, para onde se mudou (exilou, segundo ele) e permaneceu até 1946. Em nossa cidade, trabalhou na Casa de Saúde São Luís.


São desse período alguns de suas principais obras:
A quadragésima porta (publicado em 1 943)
A túnica e os dados (publicado em 1947)
Carta a minha filha em prantos (publicado era 1946)


O romance A quadragésima porta (já o trouxera escrito do Rio de Janeiro; em Marília, chegou a refazê-lo inúmeras vezes) alcançou enorme sucesso, ultrapassando o de A mulher que fugiu de Sodoma.
Em vários de seus romances, Geraldo Vieira retratou, com maestria, locais da Marília dos nos de 40: a Avenida Sampaio Vidal com seus bancos, seu hotel São Bento, seu Cine Marília; a Rua São Luís com seu efervescente comércio; a Vila São Miguel com suas fábricas.
José Geraldo Vieira faleceu, em São Paulo, a 18 de agosto de 1977. Suas últimas palavras, no hospital em que permaneceu internado por vários dias, foram. “Vejo agora nitidamente que Deus tem asas, enquanto a bondade dos homens é pequena!”.

Profª Márcia Garcia
Mestre em Letras e Especialista em Literatura e Ensino de Literatura pela UNESP. Professora de Gramática, Literatura e Redação no CENAPHE (Centro de Aperfeiçoamento Humano Educacional Profª Márcia Garcia).e-mail: marciaagarcia@yahoo.com.br

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

GÊNEROS TEXTUAIS E TIPOS DE TEXTO

Gêneros textuais são as diversas espécies de texto utilizadas para a comunicação; receitas, charges, canções, relatórios, artigos de opinião, bulas de remédio, relatos, cartas, crônica, gráficos, grafites, histórias em quadrinho, quadros etc. Como cada gênero apresenta características próprias (como o tipo de informação presente, a linguagem, a organização textual) conhecê-las ajuda tanto a interpretá-los quanto a produzi-los.

Um texto não é indivisível, pode ser decomposto em partes. Para uma didática da composição, é muito útil identificar as diversas formas de discurso que constituem um texto. A retórica, entendida como a ciência do dizer bem com o objetivo de per­suadir o ouvinte ou o leitor, preocupou-se em analisar as partes que devem constituir um discurso para que ele seja eficaz, identificando particularmente a presença de alguns tipos de discurso que coexistem em um texto persuasivo. São eles:

1. A descrição: é um discurso que apresenta objetos, pessoas, lugares e sentimentos utilizando, tanto quanto possível, detalhes concretos. A descrição evidencia a percepção que o autor tem dos objetos e dos sentimentos através dos cinco sen­tidos.

Exemplo: "Eis São Paulo às sete da noite. O trânsito caminha lento e nervoso. Nas ruas, pedestres apressados se atropelam. Nos bares, bocas cansadas conversam, mastigam e bebem em volta das me­sas. Luzes de tons pálidos incidem sobre o cinza dos prédios."


Esse texto é descritivo, pois:

- são relatados vários aspectos concretos de um lugar concreto (São Paulo) num ponto estático do tempo (às sete da noite);

- tudo é simultâneo — ou concebido como se fosse simultâneo —, e não há progressão temporal entre os enunciados.

2. A narração: é um discurso que apresenta uma história, expõe um evento ou uma série de eventos em sentido lato. No caso de vários eventos, eles são relacionados por um fio con­dutor (por exemplo, o tempo, o protagonista, um lugar etc.).

Exemplo: "Eram sete horas da noite em São Paulo e a cidade toda se agitava naquele clima de quase tumulto típico dessa hora. De re­pente, uma escuridão total caiu sobre todos como uma espessa lo­na opaca de um grande circo. Os veículos acenderam os faróis al­tos, insuficientes para substituir a iluminação anterior."

Esse texto é narrativo, pois:
— relata fatos concretos, num espaço concreto e num tempo definido;

— os fatos narrados não são simultâneos como na descrição: há mu­dança de um estado para outro, e, por isso, entre os enunciados existe uma relação de anterioridade e posterioridade.


3. A disssertação expositiva: é um discurso que apresenta e explica ideias e assuntos, esclarecendo objetivos e os organizando. Utiliza vários métodos retóricos, como a classificação, o con­fronto, a comparação, a analogia, a definição e o exemplo.

A dissertação argumentativa: é um discurso que apresenta fatos, e raciocínios com base numa opinião, geralmente a do autor. Em geral é possível identificar os quatro seguintes elementos:
a) análise ou apresentação de um problema;
b) apresentação de fatos e discussões que constituem a base da argumentação;
c) proposta de uma solução ou tese e seu desenvolvi­mento através da exposição de fatos e de argumen­tações lógicas;
d) crítica de outras soluções ou teses alternativas.


Exemplo: "As condições de bem-estar e de comodidade nos grandes cen­tros urbanos como São Paulo são reconhecidamente precárias por causa, sobretudo, da densa concentração de habitantes num espa­ço que não foi planejado para alojá-los. Com isso, praticamente to­dos os pólos da estrutura urbana ficam afetados: o trânsito é len­to; os transportes coletivos, insuficientes; os estabelecimentos de prestação de serviço, ineficazes."

Como se pode notar, esse texto é nitidamente dissertativo, pois:
— interpreta e analisa, através de conceitos abstratos, os dados con­cretos da realidade; os dados concretos que nele ocorrem funcio­nam apenas como recursos de confirmação ou exemplificação das ideias abstratas que estão sendo discutidas; o grau de abstração é mais alto do que o dos dois anteriores;

— ainda que na dissertação não exista, em princípio, progressão tem­poral entre os enunciados, eles mantém relações lógicas entre si, o que impede de se alterar à vontade sua sequência.


A dissertação pode falar de transformações de estado, mas fala de um modo diferente da narração. Enquanto esta é um texto figura­tivo, aquela é um texto temático. Por isso, enquanto a finalidade principal da narração é o relato das transformações, o objetivo pri­meiro da dissertação é a análise e a interpretação das transforma­ções relatadas.


Na verdade, os vários tipos de discurso podem ser encontrados em diferentes medidas em todos os textos (e não só nos argumentativos, mais estudados pela retórica). Um exercício escolar útil para aperfeiçoar a capacidade de leitura dos alunos é o de identificação da presença desses discursos nos textos, partindo de escritos simples de tipo jornalístico até textos literários.

Com base na ocorrência dos quatro tipos de discurso, os gêneros textuais podem ser subdivididos em quatro grupos. No grupo primeiro, do monólogo à autobiografia (monólogo, diálogo, diário, carta, autobiografia), predomina claramente a narração, seguida pela descrição. No segundo grupo, do relato à lei (relato, telegrama, anotações, roteiro, resumo, crônica, relatório, definição, lei), ocorrem os quatro tipos de discurso, com uma predominância da descrição, da narração e da exposição. No terceiro grupo, da poesia ao esquema (poesia, conto, fábula, normas, provérbio, epitáfio, piadas, esquema), são novamente predominantes a descrição e a narração. No quarto grupo, enfim, que inclui só o editorial, o ensaio e o comentário, estão presentes na mesma medida todos os quatro discursos de base. O segundo e o quarto grupos utilizam predominantemente os mesmos dis­cursos de base, mas se diferenciam por outras características (...).”


(Fontes: Como escrever textos, Maria Teresa Serafini e Para entender o texto, Platão e Fiorin)

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DE REDAÇÃO



Quanto ao TEMA

Anulação: fuga total ao tema proposto.
Abaixo da média: exploração do assunto, mas desvio do tema; ou abordagem superficial e banalizada do tema.
Na média: abordagem regular, mas previsível do tema.
Acima da média: abordagem completa, clara e pessoal do tema; presença de excelente informatividade.

Quanto à COLETÂNEA

Anulação: desconsideração total dos excertos da coletânea.
Abaixo da média: realização de mera colagem de dados da coletânea; ou utilização superficial da coletânea - usada como um exemplário de acontecimentos, tratados de forma banalizada.
Na média: utilização regular da coletânea, devido à leitura apressada, superficial, simplista.
Acima da média: excelente articulação dos elementos da coletânea; utilização bem trabalhada e bem articulada dos fragmentos da coletânea.


Quanto ao TIPO DE TEXTO

Anulação: fuga total ao tipo de texto solicitado.
Abaixo da média: fuga parcial ao tipo de texto solicitado; ou desenvolvimento do tipo de texto solicitado, mas com apresentação de falhas macroestruturais.
Na média: desenvolvimento do tipo de texto solicitado, mas sem boa exploração de seus recursos micro e macroestruturais.
Acima da média: excelente desenvolvimento do tipo textual solicitado.

Quanto à MODALIDADE ESCRITA

Abaixo da média: demonstração de conhecimento insuficiente da variante linguística adequada ao tipo de texto desenvolvido e/ou apresentação de muitas inadequações gramaticais e/ou utilização de termos pertencentes à oralidade injustificáveis pelo contexto.
Na média: demonstração de conhecimento razoável da variante linguística adequada ao tipo de texto desenvolvido e/ou apresentação de algumas inadequações gramaticais injustificáveis pelo contexto.
Acima da média: demonstração de excelente conhecimento e utilização da variante linguística adequada ao tipo de texto solicitado; apresentação de pouca ou nenhuma inadequação gramatical e ortográfica.

Quanto à COESÃO

Abaixo da média: uso inadequado de elementos coesivos (elementos gramaticais e/ou lexicais e conectivos); ou uso adequado - mas muito banal e previsível - de elementos coesivos.
Na média: uso adequado, com alguma sofisticação, dos recursos coesivos.
Acima da média: excelente uso dos elementos coesivos, o que assegura uma leitura fluida e prazerosa do texto; boas articulações sintáticas e textuais e léxico diferenciado.

Quanto à COERÊNCIA

Abaixo da média: ocorrência de várias contradições internas e/ou externas; ausência de continuidade, progressão e de articulação semântica; presença de baixa informatividade.
Na média: uso regular dos requisitos necessários para a coerência interna e externa – continuidade, progressão, não-contradição e articulação; presença de média informatividade.
Acima da média: excelente uso dos requisitos necessários para a coerência interna e externa – continuidade, progressão, não-contradição e articulação; excelente informatividade.

AVISOS - CURSO DE REDAÇÃO/2009

1. REDAÇÃO - CONTEÚDO E FORMA DE EXPRESSÃO: É PRECISO TER O QUE DIZER E ESCOLHER O MODO MAIS EFICIENTE PARA DIZER

2. APOSTILA - USO DIFERENCIADO


3. DESENVOLVIMENTO DE ATIVIDADES EM AULA - DE ACORDO COM TEMPO ESTIPULADO (QUEM TERMINAR A ATIVIDADE ANTES DE ENCERRADO O TEMPO ESTIPULADO, DEVERÁ PERMANECER EM ABSOLUTO SILÊNCIO ATÉ QUE O TEMPO SE ESGOTE; QUEM NÃO CONSEGUIR TERMINAR A ATIVIDADE DENTRO DO TEMPO ESTIPULADO, DEVERÁ OBRIGATORIAMENTE PARÁ-LA QUANDO O TEMPO SE ESGOTAR)


4. RESOLUÇÃO DE ATIVIDADES DA APOSTILA CADERNO DADAS COMO TAREFA - CONSULTAR RESPOSTAS NO BLOG (ATENTAR NÃO SÓ PARA O CONTEÚDO MAS TAMBÉM PARA A FORMA DE EXPRESSÃO: RESPOSTAS CORRETAS, MAS MAL REDIGIDAS, TÊM POUCO VALOR EM NOSSO CURSO DE REDAÇÃO)


5. PRODUÇÃO DE TEXTO - OBEDIÊNCIA RIGOROSA AO TEMPO ESTIPULADO


6. CORREÇÃO - DE ACORDO COM OS CRITÉRIOS CONSTANTES NO VERSO DA FOLHA DE REDAÇÃO


7. NÚMERO DE CORREÇÕES - DUAS POR BIMESTRES PARA NOTA (AS DEMAIS REDAÇÕES, SERÃO APENAS LIDAS PELA PROFESSORA PARA VERIFICAÇÃO CONSTANTE DO DESEMPENHO DO ALUNO)


8. AVALIAÇÕES - DUAS REDAÇÕES COM VALOR TOTAL DE 4 PONTOS E ATIVIDADES EXTRA-CLASSE (POR EXEMPLO, ANÁLISE DE FILME) NUM TOTAL DE 2 PONTOS


9. PARTICIPAÇÃO EM AULA - CONSTANTE E ADEQUADA (MOMENTOS DE PRODUÇÃO DE TEXTO EXIGEM ABSOLUTO SILÊNCIO; MOMENTOS DE DEBATE EXIGEM RESPEITO À OPINIÃO ALHEIA; MOMENTOS DE EXPOSIÇÃO TEÓRICA DO CONTEÚDO EXIGEM TAMBÉM ABSOLUTO SILÊNCIO ETC. )


10. BLOG - LER CONSTANTEMENTE E SEGUIR ORIENTAÇÕES

http://2redacaoo.blogspot.com/

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

BEM-VINDO!!!


Caro(a) aluno(a),



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1. adicione-me em seu orkut:http://www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?uid=3091302384279687843&rl=t


2. aceite o convite para participar do seu marciaagarcia@grupos.com.br para poder receber mensagens


3. acesse seu e-mail semanalmente (de preferência aos domingos) para receber mensagens do marciaagarcia@grupos.com.br