Número de partos cai entre adolescentes
O Ministério da Saúde lançou um relatório mostrando que o número de partos feitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em garotas de 10 a 19 anos caiu 26,7% entre 1997 e 2007. Em 1997, foram feitos 720.338 partos em adolescentes, enquanto em 2007 o total caiu para 527.341. Este ano, até julho, haviam sido feitos 275.892 partos em adolescentes pelo SUS.
O ministério credita a redução de partos em adolescentes a uma série de políticas que aumentaram o acesso a métodos anticoncepcionais e a medidas educativas sobre saúde sexual e reprodutiva destinadas a jovens. A maior queda foi observada na região Sul (35,6%), enquanto a menor foi da região Norte (6,7%). Na região Centro-Oeste a diminuição foi de 34,1%, no Sudeste de 32,4% e no Nordeste, 22,6%.
A incidência de gestação precoce continua sendo maior entre garotas de baixo poder aquisitivo e baixa escolaridade. Entre as garotas negras, o índice é cerca de 30% maior do que entre garotas brancas.
Para ler mais sobre a pesquisa acesse Saude.gov.
2. O exercício da sexualidade na adolescência: a contracepção em questão*
A gravidez na adolescência é um evento complexo, pluricausal, que pode comprometer o projeto de vida e, por vezes, a própria vida1.
O parto constitui hoje a primeira causa de internação em menores de 20 anos nos serviços públicos e privados; gravidez, parto e puerpério perfazem, em todas as regiões do país, 80,3% do total de internações3.
Vários fatores são apontados para a ocorrência da gestação na adolescência4-6, destacando-se entre eles: o adiantamento da puberdade; o início cada vez mais precoce das relações sexuais; a
desestruturação familiar; a banalização e vulgarização do sexo pelos meios de comunicação; a sociedade pseudopermissiva que estimula a atividade sexual e a erotização do corpo mas proíbe a gravidez na adolescência; as singularidades psíquicas desta faixa etária; a baixa escolaridade; a ausência de projeto de vida; a promiscuidade; a miséria; o desejo de gravidez (variável inconsciente de difícil avaliação).
Até há cerca de duas décadas, somava-se a este cortejo a possível falta de informação. Posteriormente, a literatura mostrou-se plena de estudos que mostravam o contrário5: adolescentes tinham a informação sobre métodos anticoncepcionais, mas não os utilizavam por várias razões4-6. O desafio de associar a esse conhecimento uma mudança efetiva no comportamento sexual dos jovens, visando o sexo seguro, uniu os profissionais da saúde em busca de soluções para o problema.
Folha de São Paulo, Teen, segunda-feira, 08 de maio de 2006, Jairo Bouer
"Meninas", filme da diretora Sandra Werneck (em cartaz), é fundamental para a gente tentar entender um pouco melhor a gravidez na adolescência no Brasil.
O documentário mostra a vida de quatro garotas que engravidaram com idades entre 13 e 15 anos. Você se impressionou com a faixa etária? Pois saiba que os dados das pesquisas mais recentes apontam que, de cada quatro ou cinco adolescentes brasileiras, uma vai engravidar antes do 18.
No filme fica claro que todas elas sabiam dos riscos que corriam ao transar sem proteção. Não dá para dizer que ninguém engravidou por falta de informação. Algumas vezes um pensamento mágico do tipo "não imaginava que isso fosse acontecer com a gente" aparece. Ficam evidentes o susto e o medo de lidar com uma nova fase da vida, mas, ao mesmo tempo, há um certo "deslumbramento" com a idéia de ser mãe.
Esse, aliás, é outro dado que surpreende. Boa parta das gestações nessa faixa de idade, principalmente aquelas que acontecem nas garotas de comunidades mais carentes, é planejada ou desejada. É como se a possibilidade de ser mãe faz a menina enxergar um papel na sociedade e um projeto.
As garotas, muitas vezes vivendo em famílias pouco estruturadas, sem perspectivas de estudo ou trabalho, passam a imaginar que a maternidade vai dar sentido a sua existência. Enganam-se!
Os namorados, na maioria das vezes mais velhos e experientes, não assumem um papel presente na criação e na educação dos filhos. E perpetua-se o ciclo em que as garotas, amparadas pelas mulheres da família, têm que se afastar ainda mais dos amigos, da escola e do emprego.
Se, de um lado, a maternidade precoce força um amadurecimento, do outro lado, o desejo de brincar, de sair, de dançar e de se divertir também está presente. E, nesse meio de caminho, entre a obrigação de criar um filho e a vontade de aproveitar a juventude, as meninas ficam ainda mais divididas. Fica evidente que a gravidez na adolescência não é um fenômeno isolado. É umas das pontas de uma realidade social que está aqui, bem na cara da gente.
@ - jbouer@uol.com.br
A gravidez na adolescência é considerada um problema de saúde em todo o mundo, inclusive no Brasil, onde se observa, nas últimas três décadas, aumento significativo dos índices de gestação em jovens de todas as classes sociais.
1. Contexto sócio-cultural mais liberal e permissivo que outrora. Pesquisa realizada pela UNESCO junto com o Ministério da Saúde, no ano de 2001, mostra, por exemplo, que na década de 1990, um entre cada quatro adolescentes tinha permissão para manter relações sexuais dentro da própria casa. Em 2001, esse número quase dobrou.
2. Início da puberdade e menarca (primeira menstruação) precoces.
3. Iniciação sexual cada vez mais precoce. Em 2004 o Ministério da Saúde divulgou dados mostrando que a média de idade na primeira relação sexual é de 15.1 anos para as meninas e de 14.4 anos para os meninos.
4. Baixa escolaridade e abandono escolar. Em São Paulo, no ano de 2000, foram registrados 314.000 partos de adolescentes com menos de 4 anos de estudo e 86.000 daquelas com 11 a 14 anos de estudo.
5. Baixa renda. Em 2000 foram registrados em São Paulo 349.000 partos de adolescentes provenientes de famílias com até 2 salários mínimos contra 20.000 daquelas com mais de 15 salários mínimos.
6. Desconhecimento sobre a sexualidade e a saúde reprodutiva.
7. Uso incorreto de anticoncepcionais. Ocorre por diversos fatores, dentre eles a falta de entendimento do seu uso efetivo ou esquecimento.
8. Características próprias da adolescência que, por si mesmas, colaboram na composição de tais números, como o pensamento mágico, ou seja, a sensação de invulnerabilidade e onipotência, a idéia de que isso nunca vai acontecer comigo. Além disso, o adolescente tem uma vivência singular do tempo, caracterizada pela impulsividade e não preocupação com as conseqüências futuras dos atos realizados aqui e agora.
9. Dificuldades de relacionamento familiar podem levar à gestação precoce, seja por agressão aos pais, baixa auto-estima ou falta de perspectivas.
10. Usuários de drogas têm altos índices de gravidez na adolescência.
Como Evitar
1. Estimular a auto-estima dos jovens, na tentativa de afastá-los de comportamentos de risco.
2. Estimular a formação de projetos para o futuro.
3. Manter uma boa estrutura familiar, fundamentada no diálogo e afeto.
4. Incentivar a educação e freqüência escolar.
5. Melhorar a qualidade do tempo livre, com estímulo aos esportes e atividades sociais.
6. Dar orientação sexual e reprodutiva.
7. Orientar quanto ao uso correto de anticoncepcionais.
O Pai Adolescente
Relatoras:
Texto atualizado em 9/08/2007.