quarta-feira, 3 de junho de 2009

Avaliação bimestral - dissertação




Proposta de redação: Redija um texto expondo seu ponto de vista sobre um dos temas do filme "Gallipoli", o qual deve ser citado para introduzir o tema como nos exemplos acima.
Antes de iniciar sua redação leia os comentários abaixo.


Gallipoli

Diretor: Peter Weir

Assunto: o confronto entre australianos e turcos na península de Gallipoli, durante a Primeira Guerra Mundial.

Resumo: dois rapazes australianos se alistam para lutar junto às tropas inglesas na Primeira Guerra Mundial. São enviados à península de Gallipoli para lutar contra os turcos. Por um erro estratégico do comando inglês, toda a unidade militar composta de australianos e neozelandeses é morta pelos turcos, aliados dos alemães.

Considerações preliminares:

a) Sobre o filme
O filme narra a Batalha de Nek, em 1915, du­rante a Primeira Guerra Mundial. Mais que um filme de guerra, é um filme pacifista, que denuncia a violência e a insanidade da guerra, que levou à morte milhares de jovens, que não sabiam sequer por que estavam lutando. Essa perspectiva explica o fato de o diretor ocupar grande parte do tempo apresentando um quadro social e psicológico dos dois jovens que protagonizam o filme. A música de fundo é “Adagio”, de Albinoni.

(...)
d) Dificuldades e recomendações

É interessante que o filme seja visto do ponto de vista biográfico e não como um filme de guerra. Essa perspectiva torna a sua análise muito mais rica porque permite pensar uma variedade de temas que ultrapas­sam os limites da guerra. Na verdade, aqui não se trata da guerra propriamente, mas de como a guerra afetou pessoas e países que estavam muito longe dos aconteci­mentos e dos motivos que levaram à eclosão desse con­flito. É interessante notar que em nenhum momento o filme esclarece por que a guerra está acontecendo. Essa falta de explicação é intencional e visa a mostrar que os motivos que levaram aqueles rapazes à guerra nada ti­nham a ver com a guerra propriamente e sim com eles mesmos.

e) Idéias-chaves
A questão que o filme nos coloca diz respeito ao próprio sentido da guerra. Por que teriam morrido to­dos aqueles meninos que pouco antes corriam pelas pla­nícies da Austrália? Na verdade, é uma pergunta que se aplica a muitas guerras.




(Mariza de Carvalho Soares, professora de História da América do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense, onde é doutoranda em História Social e coordenadora do projeto Cinema & História
no Laboratório de História Oral e Iconografia.)









terça-feira, 2 de junho de 2009

Paz/Guerra

* Por Celso Lafer
Publicado em 18/02/2005 - 02:00



A palavra guerra provém do germânico werra, que tem a acepção de discórdia, combate. Já a palavra paz se origina do latim pax, de verbo cujo particípio é pactus, donde o pacto celebrado entre os beligerantes para fazer cessar o estado de guerra. A etimologia das duas palavras explica o inter-relacionamento que permeia a dicotomia paz/guerra, na qual a guerra é o termo forte e a paz, por isso mesmo, é usualmente definida e dicionarizada como ausência de guerra.
Na análise da vida internacional, em contraste com o que ocorre no plano interno, no qual o termo forte é ordem (pois a desordem é a falta de ordem), a prevalência da guerra sobre a paz é o pressuposto do realismo político.
Este endossa a leitura de Hobbes, para quem o sistema internacional, na inexistência de um pacto dotado de poder, corresponde à anarquia do estado de natureza da guerra de todos contra todos. Na anarquia do estado de natureza a paz é vista como um precário arranjo, fruto da prudência ou do expediente. Daí a recomendação do ditado latino: "Se queres a paz, prepara-te para a guerra."

A mitologia grega registra a histórica preponderância da guerra sobre a paz.

Ares, o deus da guerra, tem assento no panteão olímpico. Já a Paz (Eirene), assim como a Justiça (Diké) e as Boas Leis (Eunomia) são divindades de menor hierarquia que integram o séquito de Afrodite.
Até o século 20 a valorização da guerra foi mais freqüente que a sua condenação. Hegel, por exemplo, contestando Kant, diz que a guerra assegura a saúde moral dos povos, que se veria afetada pela estagnação de uma paz perpétua, da mesma maneira que os ventos protegem o mar da podridão inerente às águas paradas.
A valorização da paz, cujo antecedente axiológico mais notório é o ideal messiânico elaborado pelo profetismo bíblico da conversão das espadas em arados, só se generaliza no século 20, com os movimentos pacifistas. Para isso foi determinante a inovação tecnológica que vem multiplicando, de maneira exponencial, a capacidade destrutiva das armas. É por esse motivo que a guerra deixou de ser vista como um mal aparente ou necessário, mas como um verdadeiro mal nas suas duas vertentes, para recorrer ao ensinamento de Bobbio: o mal ativo, infligido pela arrasadora destrutividade das armas de hoje, e o mal passivo, sofrido pelas vítimas da violência dos conflitos contemporâneos.
A evolução do cenário internacional pós-guerra fria e o término da lógica estratégica do equilíbrio do terror nuclear não levaram à criação das condições de uma humanidade mais pacífica. A guerra tem-se revelado, confirmando um conceito de Raymond Aron, um camaleão. Assume novas formas e complexidades próprias a cada distinta conjuntura. Tem atualmente como notas: a heterogeneidade dos conflitos que incluem guerras civis e guerras de secessão nacional com conflitos étnicos, e guerras terroristas sem protagonista estatal identificável; a pluralidade das armas; os ódios públicos seletivamente alimentados pelo fundamentalismo; o unilateralismo provocador das tensões de hegemonia e, como sempre, o tradicional jogo dos interesses do poder e da economia. Subjacente a este camaleão, no entanto, está o mal ativo e passivo. Daí a preocupação com a arrasadora violência da guerra, que desde a 1.ª Guerra Mundial inaugurou o massacre de massas que atinge crescentemente a população civil. Estima-se que nos conflitos contemporâneos, qualificados de "baixa intensidade", que infestam o Oriente Médio, a África e outras regiões do mundo, 75% a 90% das vítimas são civis.

Daí a urgência dramática da pergunta: por que a guerra, e não a paz?

As condições históricas da inserção do Brasil no mundo permitiram ao nosso país afirmar o valor da paz, consagrando-o juridicamente como diretriz da política externa desde a Constituição Republicana de 1891. Nesse sentido, pode-se dizer que, para a diplomacia brasileira, paz e guerra são, na linha de Raymond Aron, idéias reguladoras da Razão: a guerra nos lembra o que é preciso temer; a paz, o que temos o direito de almejar.
A expressão desta visão tem a sua melhor representação nos dois painéis de Portinari - Paz e Guerra - que o Brasil ofereceu à ONU e estão localizados no saguão da Assembléia-Geral. Como disse, em 1956, o então chanceler José Carlos de Macedo Soares, dar à sede da ONU esses dois painéis, que sintetizavam a vocação brasileira para a paz, carregava uma mensagem: a imagem da guerra que a ONU tem de vencer e a da paz que deve promover e realizar.
Portinari, que tinha a força estética para o monumental - e por isso foi o grande muralista latino-americano -, na representação da guerra, ciente de que as armas mudam continuamente, não se ocupou dos seus artefatos e protagonistas. Inspirou-se na simbologia dos quatro cavaleiros do Apocalipse. Fixou o sofrimento das populações civis. São as seis figuras maternas com o filho morto que lembram a Pietà e os quase 70 deslocados no mundo que têm as faces dos retirantes nordestinos. O clima da guerra emana de um azul escuro e no canto do painel se encontram três grandes felinos, de repugnante beleza, a nos advertir dos perigos do vitalismo da estetização da violência.
A matéria-prima inspiradora da representação da paz do painel de Portinari foi a memória da inocência da infância. São os meninos de Brodowski nas gangorras, um coral de crianças de todas as raças, moças que bailam e cantam. No centro do painel, duas cabras dançam. Dançam "porque a paz é um estado natural de dança na face da Terra", como escreveu Carlos Drummond de Andrade, e porque, para lembrar um poema de Mário de Andrade sobre o Brasil, "embora tão diversa a nossa vida/ Dançamos juntos no carnaval das gentes".
A mensagem dos painéis de Portinari articula, como disse o chanceler Macedo Soares, uma "força profunda" da política externa brasileira e representa, sem as seletividades da razão de Estado, das ideologias e dos fundamentalismos, o ideal de paz. Este ideal, no labirinto da convivência coletiva internacional, continua localizado, com todas as suas imperfeições, na institucionalidade da ONU e nas direções que aponta a sua Carta para lidar com a kantiana "insociável sociabilidade humana": a solução pacífica de controvérsias, os direitos humanos, o desarmamento, a cooperação para superar as assimetrias econômicas e sociais. * Celso Lafer é professor titular da Faculdade de Direito da USP, foi ministro das Relações Exteriores no governo Fernando Henrique Cardoso.



http://www.universia.com.br/materia/materia.jsp?id=6251
Guerra



Paz


Portinari se baseou em figuras noturnas para pintaro quadro Guerra. Já para pintar Paz,o artista se inspirou nas crianças de sua cidade natal, Brodowski.

http://images.google.com.br/imgres?imgurl

Imagens de mães com bebês mortos no colo, mulheres agachadas em desespero e mãos levadas à cabeça compõem a série Guerra. Em Paz, há mãos entrelaçadas, crianças em balanços, corpos a dançar.

http://www.cartanaescola.com.br/edicoes/2007/18/painel-do-descaso/

Gallipoli

FICHA TÉCNICA

Título: Gallipoli

País de produção: Austrália

Diretor: Peter Weir

Ano de produção: 1981

Duração: 110 min

Distribuidora: CIC Vídeo

Assunto: o confronto entre australianos e turcos na península de Gallipoli, durante a Primeira Guerra Mundial.

Resumo: dois rapazes australianos se alistam para lutar junto às tropas inglesas na Primeira Guerra Mundial. São enviados à península de Gallipoli para lutar contra os turcos. Por um erro estratégico do comando inglês, toda a unidade militar composta de australianos e neozelandeses é morta pelos turcos, aliados dos alemães.

Comentários preliminares

a) Sobre o filme
O filme narra a Batalha de Nek, em 1915, du­rante a Primeira Guerra Mundial. Mais que um filme de guerra, é um filme pacifista, que denuncia a violência e a insanidade da guerra, que levou à morte milhares de jovens, que não sabiam sequer por que estavam lutando. Essa perspectiva explica o fato de o diretor ocupar grande parte do tempo apresentando um quadro social e psicológico dos dois jovens que protagonizam o filme. A música de fundo é “Adagio”, de Albinoni.

b) Sobre a Austrália
A Austrália foi descoberta pelos portugueses no século XVI, mas em 1770 foi ocupada pelos ingleses. Em 1901 se constituiu como Estado independente, membro da Comunidade Britânica (Commnwealth). Nas duas grandes guerras mundiais, lutou ao lado dos jngleses.

c) Sobre a participação dos australianos na Pri­meira Guerra Mundial
Convocados para combater ao lado dos exércitos ingleses, os australianos se alistaram para lutar numa guerra que a maioria da população desconhecia. Formou-se então a Unidade Militar Australiana e Neozelandesa, que foi enviada ao Cairo (Egito) para treinamento. Ai permaneceu por oito meses. Em seguida foi enviada para combater na península de Gallipoli. Como relata o próprio filme, esse episódio deixou um saldo de 7.594 mortos e mais de 20.000 feridos. Aproximadamente 1/5 dos mortos eram jovens com menos de 21 anos, alistados irregularmente.

d) Dificuldades e recomendações

É interessante que o filme seja visto do ponto de vista biográfico e não como um filme de guerra. Essa perspectiva torna a sua análise muito mais rica porque permite pensar uma variedade de temas que ultrapas­sam os limites da guerra. Na verdade, aqui não se trata da guerra propriamente, mas de como a guerra afetou pessoas e países que estavam muito longe dos aconteci­mentos e dos motivos que levaram à eclosão desse con­flito. É interessante notar que em nenhum momento o filme esclarece por que a guerra está acontecendo. Essa falta de explicação é intencional e visa a mostrar que os motivos que levaram aqueles rapazes à guerra nada ti­nham a ver com a guerra propriamente e sim com eles mesmos.

e) Idéias-chaves
A questão que o filme nos coloca diz respeito ao próprio sentido da guerra. Por que teriam morrido to­dos aqueles meninos que pouco antes corriam pelas pla­nícies da Austrália? Na verdade, é uma pergunta que se aplica a muitas guerras.

Análise de alguns aspectos do filme

a) Os anos que antecedem a guerra

Enquanto a Europa passava por profundas trans­formações, a vida no interior da Austrália continuava a mesma: as famílias ocupavam terras e aumentavam seus rebanhos. Mas, sem que a maioria deles se desse conta, a África e a Ásia estavam sendo objeto da cobiça dos povos europeus.

b) A Primeira Guerra Mundial
Com a progressiva en­trada de vários países na guerra, o conflito acabou se tornando mundial. Foi a primeira vez que na história da humanidade um conflito armado atingiu tamanhas pro­porções. A guerra (1914-1918) começa nos moldes das guerras do século XIX, com cavalos, infantaria e tambores, e acaba com ataques aéreos, num rápido desenvol­vimento tecnológico. A Batalha de Nek mostra a guerra de trincheiras que caracterizou os primeiros anos do con­flito. Os soldados são orientados a lutar com suas baio­netas. Logo no início da batalha, um oficial recomenda aos soldados que mantenham as armas descarregadas e que lutem com suas baionetas. Do outro lado, os turcos atacavam com modernas metralhadoras, provavelmente fornecidas pêlos alemães.

c) A hierarquia do Exército

A Austrália, como país independente, tem seu próprio comando militar, um general, mas este, por sua vez, está subordinado aos ingleses. Como bem se nota no filme, é o general inglês que, à revelia do australia­no, insiste no ataque suicida. No conjunto das tropas, os australianos são requisitados para compor a cavala­ria. A Austrália já era na época um dos maiores produ­tores de gado e por isso muitos homens eram bons ca­valeiros. O filme se passa entre 1914 e 1915, portanto, logo no início da guerra. Nessa época a cavalaria ainda exercia um importante papel nas batalhas. Ser um sol­dado da cavalaria era motivo de orgulho para qualquer jovem. Sobre o papel da cavalaria no Exército podemos lembrar do exército de Napoleão. O rapaz que é bom cavaleiro vai para a cavalaria e o que não sabe montar vai para a infantaria. Aparentemente é apenas uma questão de saber ou não montar, mas na maioria das vezes não é só isso. Sabe montar quem tem condições de aprender e para isso precisa dispor de cavalos. Rara­mente um rapaz pobre pode aprender a montar porque não dispõe de cavalo. Isso acaba por levar a uma seleção que torna os filhos de proprietários de terra e gado, assim como aqueles que trabalham para eles, mais ap­tos que os demais. Assim, irão para o oficialato os jo­vens com estudo e membros de famílias ricas, e para a cavalaria, os donos de propriedades rurais (não necessa­riamente ricos) e seus agregados. O caso dos dois rapa­zes mostra bem essa diferença.

d) O treinamento no Cairo

A parte do filme referente ao treinamento no Cairo mostra de um lado a adaptação dos jovens austra­lianos, a maioria deles de origem rural, às condições de vida no Exército. Fala da disciplina, hierarquia (exemplo do baile restrito aos oficiais), da proximidade da morte. Tudo isso é novidade para eles.
Outro aspecto interessante é como o Exército, diante do alto índice de contaminação dos soldados, decide combater abertamente o contato dos soldados com a população local: comida, mulheres, jogos de azar, brigas eram sempre recriminadas pelos oficiais, mas mesmo assim nunca deixaram de atrair os soldados, e muitos oficiais...

e) Costume de deixar lembranças nas trincheiras

Numa das cenas finais, antes do início da batalha, vários soldados deixam lembranças presas nas paredes das trincheiras. Os soldados que sobreviviam ge­ralmente se encarregavam de fazer com que elas che­gassem a seu destino (mãe, namorada, geralmente). No filme “Tempo de glória”, o coronel Shaw escrevia as car­tas à sua mãe, que posteriormente possibilitaram a rea­lização do filme.

f) O Império turco

Australianos e ingleses combatem os turcos em Gallipoli e perdem essa batalha e multas outras na pri­meira fase da guerra. Os turcos, aliados aos alemães, se adaptaram rapidamente ao uso das metralhadoras ale­mãs, tecnologicamente sofisticadas. Entretanto, manti­veram muitas de suas tradições, entre elas, por exem­plo, o uso do turbante na cabeça, que rapidamente os diferenciava não apenas dos alemães, mas de todos os europeus. Ao fim da guerra, os turcos, derrotados junto com os alemães, tiveram seu território desmembrado.

Mariza de Carvalho Soares, professora de História da América do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense, onde é doutoranda em História Social e coordenadora do projeto Cinema & História
no Laboratório de História Oral e Iconografia.