quarta-feira, 4 de março de 2009

AS INFORMAÇÕES IMPLÍCITAS

(...)
Um dos aspectos mais intrigantes da leitura de um texto é a ve­rificação de que ele pode dizer coisas que parece não estar dizendo: além das informações explicitamente enunciadas, existem outras que ficam subentendidas ou pressupostas. Para realizar uma leitura efi­ciente, o leitor deve captar tanto os dados explícitos quanto os implícitos.
Leitor perspicaz é aquele que consegue ler nas entrelinhas. Ca­so contrário, ele pode passar por cima de significados importantes e decisivos ou — o que é pior — pode concordar com coisas que re­jeitaria se as percebesse.
Não é preciso dizer que alguns tipos de texto exploram, com malícia e com intenções falaciosas, esses aspectos subentendidos e pressupostos.
Que são pressupostos? São aquelas ideias não expressas de ma­neira explícita, mas que o leitor pode perceber a partir de certas pa­lavras ou expressões contidas na frase.
Assim, quando se diz "O tempo continua chuvoso", comuni­ca-se de maneira explícita que no momento da fala o tempo é de chuva, mas, ao mesmo tempo, o verbo "continuar" deixa perceber a informação implícita de que antes o tempo já estava chuvoso.
Na frase "Pedro deixou de fumar" diz-se explicitamente que, no momento da fala, Pedro não fuma. O verbo "deixar", todavia, transmite a informação implícita de que Pedro fumava antes.
A informação explícita pode ser questionada pelo ouvinte, que pode ou não concordar com ela. Os pressupostos, no entanto, têm que ser verdadeiros ou pelo menos admitidos como verdadeiros, por­que é a partir deles que se constróem as informações explícitas. Se o pressuposto é falso, a informação explícita não tem cabimento. No exemplo acima, se Pedro não fumava antes, não tem cabimen­to afirmar que ele deixou de fumar.
Na leitura e interpretação de um texto, é muito importante de­tectar os pressupostos, pois seu uso é um dos recursos argumentativos utilizados com vistas a levar o ouvinte ou o leitor a aceitar o que está sendo comunicado. Ao introduzir uma ideia sob a forma de pressuposto, o falante transforma o ouvinte em cúmplice, uma vez que essa ideia não é posta em discussão e todos os argumentos subsequentes só contribuem para confirmá-la.
Por isso pode-se dizer que o pressuposto aprisiona o ouvinte ao sistema de pensamento montado pelo falante.

(Para entender o texto. Platão e Fiorin)

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