sábado, 31 de janeiro de 2009

LEITURA PARA PRÓXIMA AULA

LEIA COM ATENÇÃO OS TEXTOS A SEGUIR E REFLITA SOBRE AS IDÉIAS NELES CONTIDAS.
1. Notícias - dezembro

Número de partos cai entre adolescentes

O Ministério da Saúde lançou um relatório mostrando que o número de partos feitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em garotas de 10 a 19 anos caiu 26,7% entre 1997 e 2007. Em 1997, foram feitos 720.338 partos em adolescentes, enquanto em 2007 o total caiu para 527.341. Este ano, até julho, haviam sido feitos 275.892 partos em adolescentes pelo SUS.
O ministério credita a redução de partos em adolescentes a uma série de políticas que aumentaram o acesso a métodos anticoncepcionais e a medidas educativas sobre saúde sexual e reprodutiva destinadas a jovens. A maior queda foi observada na região Sul (35,6%), enquanto a menor foi da região Norte (6,7%). Na região Centro-Oeste a diminuição foi de 34,1%, no Sudeste de 32,4% e no Nordeste, 22,6%.
A incidência de gestação precoce continua sendo maior entre garotas de baixo poder aquisitivo e baixa escolaridade. Entre as garotas negras, o índice é cerca de 30% maior do que entre garotas brancas.
Para ler mais sobre a pesquisa acesse Saude.gov.

2. O exercício da sexualidade na adolescência: a contracepção em questão*

A gravidez na adolescência é um evento complexo, pluricausal, que pode comprometer o projeto de vida e, por vezes, a própria vida1.
Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil entrou no ano 2000 com 36 milhões de indivíduos adolescentes, sendo esta a maior coorte nesta faixa etária, de sua história demográfica2. Dados do Ministério da Saúde revelam que um milhão de adolescentes ficam grávidas por ano, ocorrendo 700.000 partos, aproximadamente, dentro do Sistema Único de Saúde e cerca de 200.000, na rede privada3. Há uma grande preocupação com o aumento de gestações abaixo de 14 anos de idade.
O parto constitui hoje a primeira causa de internação em menores de 20 anos nos serviços públicos e privados; gravidez, parto e puerpério perfazem, em todas as regiões do país, 80,3% do total de internações3.
Vários fatores são apontados para a ocorrência da gestação na adolescência4-6, destacando-se entre eles: o adiantamento da puberdade; o início cada vez mais precoce das relações sexuais; a
desestruturação familiar; a banalização e vulgarização do sexo pelos meios de comunicação; a sociedade pseudopermissiva que estimula a atividade sexual e a erotização do corpo mas proíbe a gravidez na adolescência; as singularidades psíquicas desta faixa etária; a baixa escolaridade; a ausência de projeto de vida; a promiscuidade; a miséria; o desejo de gravidez (variável inconsciente de difícil avaliação).
Até há cerca de duas décadas, somava-se a este cortejo a possível falta de informação. Posteriormente, a literatura mostrou-se plena de estudos que mostravam o contrário5: adolescentes tinham a informação sobre métodos anticoncepcionais, mas não os utilizavam por várias razões4-6. O desafio de associar a esse conhecimento uma mudança efetiva no comportamento sexual dos jovens, visando o sexo seguro, uniu os profissionais da saúde em busca de soluções para o problema.
3. "Meninas" expõe gravidez adolescente [Jairo Bouer]
Folha de São Paulo, Teen, segunda-feira, 08 de maio de 2006, Jairo Bouer

"Meninas", filme da diretora Sandra Werneck (em cartaz), é fundamental para a gente tentar entender um pouco melhor a gravidez na adolescência no Brasil.

O documentário mostra a vida de quatro garotas que engravidaram com idades entre 13 e 15 anos. Você se impressionou com a faixa etária? Pois saiba que os dados das pesquisas mais recentes apontam que, de cada quatro ou cinco adolescentes brasileiras, uma vai engravidar antes do 18.
No filme fica claro que todas elas sabiam dos riscos que corriam ao transar sem proteção. Não dá para dizer que ninguém engravidou por falta de informação. Algumas vezes um pensamento mágico do tipo "não imaginava que isso fosse acontecer com a gente" aparece. Ficam evidentes o susto e o medo de lidar com uma nova fase da vida, mas, ao mesmo tempo, há um certo "deslumbramento" com a idéia de ser mãe.
Esse, aliás, é outro dado que surpreende. Boa parta das gestações nessa faixa de idade, principalmente aquelas que acontecem nas garotas de comunidades mais carentes, é planejada ou desejada. É como se a possibilidade de ser mãe faz a menina enxergar um papel na sociedade e um projeto.
As garotas, muitas vezes vivendo em famílias pouco estruturadas, sem perspectivas de estudo ou trabalho, passam a imaginar que a maternidade vai dar sentido a sua existência. Enganam-se!
Os namorados, na maioria das vezes mais velhos e experientes, não assumem um papel presente na criação e na educação dos filhos. E perpetua-se o ciclo em que as garotas, amparadas pelas mulheres da família, têm que se afastar ainda mais dos amigos, da escola e do emprego.
Se, de um lado, a maternidade precoce força um amadurecimento, do outro lado, o desejo de brincar, de sair, de dançar e de se divertir também está presente. E, nesse meio de caminho, entre a obrigação de criar um filho e a vontade de aproveitar a juventude, as meninas ficam ainda mais divididas. Fica evidente que a gravidez na adolescência não é um fenômeno isolado. É umas das pontas de uma realidade social que está aqui, bem na cara da gente.
@ - jbouer@uol.com.br
4. Gravidez na adolescência

A gravidez na adolescência é considerada um problema de saúde em todo o mundo, inclusive no Brasil, onde se observa, nas últimas três décadas, aumento significativo dos índices de gestação em jovens de todas as classes sociais.
A adolescência é a fase de transição entre a infância e a idade adulta, caracterizada pelas transformações físicas e psicossociais. Nessa fase, os jovens assumem mudanças na imagem corporal, de valores e de estilo de vida, afastando-se dos padrões estabelecidos por seus pais e criando sua própria identidade.
O desenvolvimento da sexualidade faz parte do crescimento do indivíduo em direção a sua identidade adulta. Inicia-se com a exploração do próprio corpo (prática masturbatória) evoluindo para o interesse pelo parceiro.
Modificações do padrão comportamental dos adolescentes no exercício de sua sexualidade vêm exigindo maior atenção dos familiares, profissionais de saúde e educação devido a suas repercussões, entre elas a gravidez precoce.
Fatores de risco
As causas de uma gravidez precoce estão relacionadas com uma série de fatores e comportamentos de risco, entre eles:

1. Contexto sócio-cultural mais liberal e permissivo que outrora. Pesquisa realizada pela UNESCO junto com o Ministério da Saúde, no ano de 2001, mostra, por exemplo, que na década de 1990, um entre cada quatro adolescentes tinha permissão para manter relações sexuais dentro da própria casa. Em 2001, esse número quase dobrou.

2. Início da puberdade e menarca (primeira menstruação) precoces.

3. Iniciação sexual cada vez mais precoce. Em 2004 o Ministério da Saúde divulgou dados mostrando que a média de idade na primeira relação sexual é de 15.1 anos para as meninas e de 14.4 anos para os meninos.

4. Baixa escolaridade e abandono escolar. Em São Paulo, no ano de 2000, foram registrados 314.000 partos de adolescentes com menos de 4 anos de estudo e 86.000 daquelas com 11 a 14 anos de estudo.

5. Baixa renda. Em 2000 foram registrados em São Paulo 349.000 partos de adolescentes provenientes de famílias com até 2 salários mínimos contra 20.000 daquelas com mais de 15 salários mínimos.

6. Desconhecimento sobre a sexualidade e a saúde reprodutiva.

7. Uso incorreto de anticoncepcionais. Ocorre por diversos fatores, dentre eles a falta de entendimento do seu uso efetivo ou esquecimento.

8. Características próprias da adolescência que, por si mesmas, colaboram na composição de tais números, como o pensamento mágico, ou seja, a sensação de invulnerabilidade e onipotência, a idéia de que isso nunca vai acontecer comigo. Além disso, o adolescente tem uma vivência singular do tempo, caracterizada pela impulsividade e não preocupação com as conseqüências futuras dos atos realizados aqui e agora.

9. Dificuldades de relacionamento familiar podem levar à gestação precoce, seja por agressão aos pais, baixa auto-estima ou falta de perspectivas.

10. Usuários de drogas têm altos índices de gravidez na adolescência.

Como Evitar

1. Estimular a auto-estima dos jovens, na tentativa de afastá-los de comportamentos de risco.

2. Estimular a formação de projetos para o futuro.

3. Manter uma boa estrutura familiar, fundamentada no diálogo e afeto.

4. Incentivar a educação e freqüência escolar.

5. Melhorar a qualidade do tempo livre, com estímulo aos esportes e atividades sociais.

6. Dar orientação sexual e reprodutiva.

7. Orientar quanto ao uso correto de anticoncepcionais.

O Pai Adolescente
O papel do parceiro é fundamental para a boa evolução da gestação, dando apoio à sua parceira e diminuindo os riscos de complicações psicológicas. Além disso, não podemos esquecer que muitos deles são também adolescentes e mostram-se inseguros perante à nova situação. Diante disso, deve-se estimular sua participação no pré-natal.
O que fazer
Diagnosticada a gravidez, deve ser iniciado o seu acompanhamento. O pré-natal ideal para a adolescente é aquele que permite um acompanhamento integral da gestante, onde além da consulta ginecológica ela possa tirar todas as suas dúvidas sobre o momento que está passando. É importante que receba orientações sobre os cuidados consigo mesma e seu bebê e tenha espaço para planejar seu futuro como mãe e adolescente, de forma que possa exercer os dois papéis simultaneamente.

Relatoras:
Dra. Andrea HercowitzMembro do Departamento de Adolescência da SPSP; Professora Colaboradora do Instituto de Hebiatria(*) da Faculdade de Medicina do ABC; Médica Pediatra da Clínica de Especialidades do Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP. Dra.
Maria Sylvia de Souza VitalleMembro do Departamento de Adolescência da SPSP; Chefe do Centro de Atendimento e Apoio ao Adolescente do Departamento de Pediatria da UNIFESP/EPM, São Paulo, SP.

Texto atualizado em 9/08/2007.
(*)Hebiatria
Drauzio – Qual é a origem da palavra hebiatria?
Mauricio de S. Lima – Hebiatria é uma palavra de origem grega que significa medicina da juventude. Traz consigo uma referência a Hebe, a deusa grega da juventude, filha de Zeus e de Hera. No Brasil, embora a especialidade exista há mais de 30 anos, poucos a conhecem.Para receber o título de hebiatra, o médico precisa fazer dois anos de especialização em pediatria e mais dois de especialização em medicina do adolescente.
Drauzio – O que diferencia a medicina aplicada à adolescência, da pediatria e da medicina com enfoque na vida adulta?
Maurício de S. Lima – A adolescência é uma fase peculiar da vida. Nenhuma outra é tão marcada por mudanças físicas e questões relacionadas ao desenvolvimento psicossocial como essa que vai do fim da infância até a entrada no mundo adulto, ou seja, dos 10 aos 20 anos de idade, segundo a Organização Mundial da Saúde.O médico hebiatra é um clínico-geral especializado em adolescentes. Cuida do desenvolvimento físico, tratando e prevenindo doenças do jovem nessa faixa de idade. Verifica se está crescendo adequadamente, ou não, e prescreve as vacinas que precisam ser ministradas na adolescência. Todo mundo se lembra das vacinas que devem ser tomadas na infância. Já as da adolescência, muitas vezes, ficam relegadas a um segundo plano.É função também do hebiatra estar atento ao desenvolvimento psicossocial no que diz respeito ao convívio social, como a interação com o grupo de amigos, a experimentação de drogas, o início da sexualidade.
Dr. Maurício de Souza Lima é médico da Unidade de Adolescentes e coordenador do Ambulatório dos Filhos de Mães-Adolescentes do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade São Paulo, membro da Associação Paulista de Adolescência e do Departamento de Adolescência da Sociedade de Pediatria de São Paulo. É também autor do livro “Filhos Crescidos, Pais Enlouquecidos” (Editora Landscape, SP, 2006, 157 páginas).

Nenhum comentário:

Postar um comentário