quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

TEXTO PUBLICADO NA COLUNA "LER PARA VIVER", EM 29/01/2009, NO DIÁRIO DE MARÍLIA



OSÓRIO ALVES DE CASTRO (1901 - 1978) – outro personagem (esquecido) da memória mariliense

Nas semanas anteriores, nesta mesma coluna, a Profª Márcia Garcia teceu algumas considerações sobre o escritor José Geraldo Vieira. Para esta semana, atendendo a uma solicitação dela, escrevo sobre outro romancista esquecido pela crítica e pelo público: o escritor-alfaiate Osório Alves de Castro.
Quem não se lembra, ou quem não ouviu falar das reuniões vespertinas que aconteciam na alfaiataria Rex, próxima ao Hotel Líder? Consoante a obra-prima de Osório, muitos marilienses reuniam-se lá para “ouvir as prosas dos trabalhadores e que ninguém duvidasse: a reunião ali fazia merecimento.”(CASTRO, Osório Alves de. Porto Calendário, São Paulo: Francisco Alves, 1961. p. 16). Segundo José Scarabôtolo, “a reunião da Alfaiataria Rex era bastante concorrida”, lá desfilavam, entre muitos, o Dr Coriolano de Carvalho, Laércio Barbalho e João Mesquita Valença que discutiam literatura com o velho Osório Alves de Castro. No Jornal do Comércio [1950], esse conhecido de Osório declara: “lembro-me de que, nas minhas férias, permanecia horas e horas conversando com o bom e místico baiano, alfaiate por obrigação e profissão, mas humanista e literata por vocação.”
Nesse período, o escritor José Geraldo Vieira, que também morava na cidade, havia publicado A Quadragésima Porta (1944) e obtido um grande sucesso pela crítica. Para J. Herculano Pires, esse lançamento serviu principalmente para, além de revelar o talento de José Geraldo Vieira, apresentar “um talento anônimo” aos marilienses, pois Osório havia escrito uma crítica (“com brilho e mestria”), apontando as falhas do livro de J. Geraldo Vieira. Esse episódio ficou célebre em Marília: o grande escritor Geraldo Vieira “se rendeu à inteligência do crítico e obscuro alfaiate”. Como Geraldo Vieira não o conhecia, senão de vista, foi conhecê-lo de perto, passando a freqüentar a Alfaiataria Rex e a discutir, com Osório e outros da roda, assuntos de comum interesse sobre literatura e política.
Baiano de Santa Maria da Vitória, Osório Alves de Castro nasceu em 1901 e faleceu em São Paulo, em 1978, sem ver impresso os livros Maria fecha porta prau boi não te pegar (1978) e Bahiano Tietê (1990). Porto Calendário, o primeiro romance do autor, estava pronto desde 1942, mas só veio a público em 1961, na cidade de Marília. Em 1976, ocorreu a sua segunda edição, em São Paulo.
Numerosas críticas apontaram os defeitos e as qualidades desse escritor. Segundo Lourenço Diaféria, o caso Osório assim se explica: “ele foi, simplesmente, um escritor honesto e digno, que não freqüentou salões e nem coquetéis, cantinas ou exposições para autopromover-se. Desatualizado dos truques e badulaques da mídia (...) não teve sequer tempo para outra coisa a não ser tentar recuperar o tempo que a profissão de alfaiate lhe roubou com a tesoura a cortar ternos para as pessoas elegantes de Marília.”
O escritor Guimarães Rosa, amigo de Osório, leu Porto Calendário antes da publicação e previu que o livro do “mano velho sãofranciscaníssimo” tinha “ousadia intelectual” e haveria de ser “irrupção e bênção, tumulto fecundo, rajada de chuva”. Boa parte da crítica e do público viu em Osório, na época, um talento comparável ao do próprio Guimarães, tanto que lhe concedeu o prêmio Jabuti em 1961.
Assim, a despeito de sua peculiaridade regional, como a de Guimarães Rosa, Osório Alves de Castro também pode ser considerado um nome respeitável no cenário literário brasileiro. (Profª Eliana Nogueira de Lima Pastana - Mestre em Letras pela UNESP. - elianap@flash.tv.br)

Profª Márcia Garcia
Especialista em Literatura e Ensino de Literatura e Mestre em Letras pela Unesp. Professora de Redação no Centro Educacional Profª Márcia Garcia.
e-mail: marciaagarcia@yahoo.com.br
blog: escreveraquiedez@blogspot.com

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