quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

GÊNEROS TEXTUAIS E TIPOS DE TEXTO

Gêneros textuais são as diversas espécies de texto utilizadas para a comunicação; receitas, charges, canções, relatórios, artigos de opinião, bulas de remédio, relatos, cartas, crônica, gráficos, grafites, histórias em quadrinho, quadros etc. Como cada gênero apresenta características próprias (como o tipo de informação presente, a linguagem, a organização textual) conhecê-las ajuda tanto a interpretá-los quanto a produzi-los.

Um texto não é indivisível, pode ser decomposto em partes. Para uma didática da composição, é muito útil identificar as diversas formas de discurso que constituem um texto. A retórica, entendida como a ciência do dizer bem com o objetivo de per­suadir o ouvinte ou o leitor, preocupou-se em analisar as partes que devem constituir um discurso para que ele seja eficaz, identificando particularmente a presença de alguns tipos de discurso que coexistem em um texto persuasivo. São eles:

1. A descrição: é um discurso que apresenta objetos, pessoas, lugares e sentimentos utilizando, tanto quanto possível, detalhes concretos. A descrição evidencia a percepção que o autor tem dos objetos e dos sentimentos através dos cinco sen­tidos.

Exemplo: "Eis São Paulo às sete da noite. O trânsito caminha lento e nervoso. Nas ruas, pedestres apressados se atropelam. Nos bares, bocas cansadas conversam, mastigam e bebem em volta das me­sas. Luzes de tons pálidos incidem sobre o cinza dos prédios."


Esse texto é descritivo, pois:

- são relatados vários aspectos concretos de um lugar concreto (São Paulo) num ponto estático do tempo (às sete da noite);

- tudo é simultâneo — ou concebido como se fosse simultâneo —, e não há progressão temporal entre os enunciados.

2. A narração: é um discurso que apresenta uma história, expõe um evento ou uma série de eventos em sentido lato. No caso de vários eventos, eles são relacionados por um fio con­dutor (por exemplo, o tempo, o protagonista, um lugar etc.).

Exemplo: "Eram sete horas da noite em São Paulo e a cidade toda se agitava naquele clima de quase tumulto típico dessa hora. De re­pente, uma escuridão total caiu sobre todos como uma espessa lo­na opaca de um grande circo. Os veículos acenderam os faróis al­tos, insuficientes para substituir a iluminação anterior."

Esse texto é narrativo, pois:
— relata fatos concretos, num espaço concreto e num tempo definido;

— os fatos narrados não são simultâneos como na descrição: há mu­dança de um estado para outro, e, por isso, entre os enunciados existe uma relação de anterioridade e posterioridade.


3. A disssertação expositiva: é um discurso que apresenta e explica ideias e assuntos, esclarecendo objetivos e os organizando. Utiliza vários métodos retóricos, como a classificação, o con­fronto, a comparação, a analogia, a definição e o exemplo.

A dissertação argumentativa: é um discurso que apresenta fatos, e raciocínios com base numa opinião, geralmente a do autor. Em geral é possível identificar os quatro seguintes elementos:
a) análise ou apresentação de um problema;
b) apresentação de fatos e discussões que constituem a base da argumentação;
c) proposta de uma solução ou tese e seu desenvolvi­mento através da exposição de fatos e de argumen­tações lógicas;
d) crítica de outras soluções ou teses alternativas.


Exemplo: "As condições de bem-estar e de comodidade nos grandes cen­tros urbanos como São Paulo são reconhecidamente precárias por causa, sobretudo, da densa concentração de habitantes num espa­ço que não foi planejado para alojá-los. Com isso, praticamente to­dos os pólos da estrutura urbana ficam afetados: o trânsito é len­to; os transportes coletivos, insuficientes; os estabelecimentos de prestação de serviço, ineficazes."

Como se pode notar, esse texto é nitidamente dissertativo, pois:
— interpreta e analisa, através de conceitos abstratos, os dados con­cretos da realidade; os dados concretos que nele ocorrem funcio­nam apenas como recursos de confirmação ou exemplificação das ideias abstratas que estão sendo discutidas; o grau de abstração é mais alto do que o dos dois anteriores;

— ainda que na dissertação não exista, em princípio, progressão tem­poral entre os enunciados, eles mantém relações lógicas entre si, o que impede de se alterar à vontade sua sequência.


A dissertação pode falar de transformações de estado, mas fala de um modo diferente da narração. Enquanto esta é um texto figura­tivo, aquela é um texto temático. Por isso, enquanto a finalidade principal da narração é o relato das transformações, o objetivo pri­meiro da dissertação é a análise e a interpretação das transforma­ções relatadas.


Na verdade, os vários tipos de discurso podem ser encontrados em diferentes medidas em todos os textos (e não só nos argumentativos, mais estudados pela retórica). Um exercício escolar útil para aperfeiçoar a capacidade de leitura dos alunos é o de identificação da presença desses discursos nos textos, partindo de escritos simples de tipo jornalístico até textos literários.

Com base na ocorrência dos quatro tipos de discurso, os gêneros textuais podem ser subdivididos em quatro grupos. No grupo primeiro, do monólogo à autobiografia (monólogo, diálogo, diário, carta, autobiografia), predomina claramente a narração, seguida pela descrição. No segundo grupo, do relato à lei (relato, telegrama, anotações, roteiro, resumo, crônica, relatório, definição, lei), ocorrem os quatro tipos de discurso, com uma predominância da descrição, da narração e da exposição. No terceiro grupo, da poesia ao esquema (poesia, conto, fábula, normas, provérbio, epitáfio, piadas, esquema), são novamente predominantes a descrição e a narração. No quarto grupo, enfim, que inclui só o editorial, o ensaio e o comentário, estão presentes na mesma medida todos os quatro discursos de base. O segundo e o quarto grupos utilizam predominantemente os mesmos dis­cursos de base, mas se diferenciam por outras características (...).”


(Fontes: Como escrever textos, Maria Teresa Serafini e Para entender o texto, Platão e Fiorin)

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